terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Literatura

Dica de Leitura

Um Defeito de Cor - Ana Maria Gonçalves 

Estou finalizando uma obra essencial para a historiografia de nosso país. É um livro intenso e denso em suas quase 1.300 páginas no e-book, demonstrando responsabilidade na produção no que tange à pesquisa profunda, ainda que seja classificado como romance. 

A história acompanha a trajetória de Kehinde/Luísa Mahín (seu nome de batismo na cultura branca), desde a tragédia familiar que matou sua mãe e irmão, ainda em solo africano (Daomé), seu aprisionamento, a viagem como escrava e a chegada nesta condição à Bahia no século XIX.

A narrativa se dá na primeira pessoa, em boa parte, para um de seus filhos, Luiz (que eu não detalho mais para não estragar a surpresa), que ficou muito tempo afastado de sua convivência.

Como professor e historiador, muitas passagens são do meu conhecimento, mas, mesmo assim, o viés apresentado pela autora me deu uma contribuição essencial para a compreensão do que hoje eu vejo como lacunas no passado conhecido do Brasil.

Por meio de Kehinde, de sua narração, a cultura africana se desvela por meio dos variados grupos étnicos que aqui desembarcaram e deram uma contribuição inestimável e imprescindível para a cara da nação brasileira.

Seja por meio da culinária, da religiosidade, dos dialetos, dos costumes e, principalmente, pela irresignação com a sujeição forçada da condição de escravo, Kehinde, sua família construída ao longo das numerosas páginas ou pela inabalável relação com seus mortos, tudo isso vai tecendo um roteiro emocionante, em que, além de anônimos, saltam nomes como D. Pedro I e seu filho, Bento Gonçalves, Dr. Sabino, Tiradentes, os revoltosos Malês que agitaram o solo baiano.

Embora decisiva a sua importância, o texto fica mais lento na segunda metade da história, quando a principal personagem deixa o Brasil e retorna ao continente africano.

De qualquer forma, renovo o sentimento de quem venceu o extenso relato contado pela autora.

Produzido em 2006, como informei, li na forma digital, que contém 1.285 páginas. A Editora é a Record.

Já nasceu clássico.



Nenhum comentário:

Postar um comentário