Literatura

Dica de Leitura

Atado de Ervas - Anna Mariano 

Está aqui um dos melhores livros que li nos últimos anos. A porto-alegrense Ana Luiza Mariano da Rocha Mottin, advogada, soube utilizar o dom de escrever com as memórias de infância vivida no interior de São Borja, fronteira gaúcha, e criou um romance excelente, encaixando a história no século XX, criando personagens com forte apelo psicológico, numa linguagem simples, dispensando o exagero do "gauchês", que nós do Sul compreendemos, mas o resto do Brasil estranha.

É uma narrativa familiar, de estancieiros e descendentes, que se passa basicamente entre o interior da cidade missioneira, o centro do Estado com Santa Maria e a capital do Rio Grande, Porto Alegre. Aliás, pelo sobrenome bem conhecido (Mariano da Rocha), desconfio que a autora tenha laços sanguíneos com "filhos" de Santa Maria.

Atado de Ervas traz semelhanças com a literatura de Sérgio Faraco, Assis Brasil e até, em alguns trechos, de Charles Kiefer, sem deixar de ter "vestígios" de obras de Érico Veríssimo e Roberto Bittencourt Martins, este, autor do magnífico Ibiamoré, o trem fantasma.

Para quem viveu na zona rural ou "prá fora", como dissemos por aqui ou que tirava férias escolares lá, terá lembranças vívidas deste período, além, é claro, da história do Rio Grande pela inserção de nomes e episódios relevantes do estado (e do Brasil), como os casos de Getúlio Vargas, Brizola, João Goulart e todas as escaramuças entre 1923 e 1963, período que o romance abrange.

Uma leitura "prá lá de especial", vibrante, que flui com muito gosto. O gosto de chegar ao final logo, mas, contraditoriamente, com a esperança de que a trama não acabe.

A minha edição é a sexta, que tem a autora assinando Anna com dois enes, as anteriores, Ana, apenas.

É de 2011, Editora L & PM, possui 397 páginas.

Imperdível!